Movimentos estudantis na Bolívia pagam salários de R$ 15 mil e provocam fenômeno de “estudantes dinossauros”: mais de 30 anos na universidade sem se formar; Entenda:
“Há líderes que de alguma forma usufruíram de seu papel porque eu acho que o líder universitário veio primeiro ser estudante universitário para depois ser líder”, diz à AFP o reitor da estatal Universidade Mayor de San Andrés (UMSA) de La Paz, Oscar Heredia.
“São dinossauros, aproveitadores, é uma vergonha”, diz Gabriela Paz, de 20 anos, estudante da Faculdade de Direito e Ciências Políticas, enquanto seu colega Mateo Siles, de 21 anos, diz que “tem gente que permanece nas universidades públicas para ter certas regalias”.
Não apenas líderes
O reitor da UMSA esclarece que não só há dirigentes estudantis que passam muitos anos nesta universidade, mas também milhares de alunos comuns estão nesta situação.
Dos 81.723 alunos da UMSA, 23% (18.796) estão estudando há mais 11 anos e 6,7% (5.475), mais de 20 anos.
“É um assunto que nos preocupa, mas é tema de grande debate”, diz Heredia.
Há, inclusive, mil alunos há mais de 30 anos nesta universidade e uma centena, há mais de 40 anos.
Em outros institutos o problema é similar. Na Universidade Gabriel René Moreno de Santa Cruz há cerca de 90 mil estudantes e destes, 3% (cerca de 2.700) estão lá há mais de dez anos.
Guido Zambrana, professor de Medicina da UMSA, afirma que “é preciso reconhecer que vivemos uma crise mais profunda”.
Por isso, recomenda “que se desmonte toda a estrutura de corrupção, má gestão, distorção da cogestão [docente-estudantil], que durante décadas vem se deteriorando”.
“A universidade é obsoleta, anacrônica, não responde mais à situação atual” da Bolívia, afirma Zambrana.